Após a Segunda Guerra Mundial, o Japão estava arrasado, derrotado pelos Aliados, destroçado pelas duas bombas nucleares, desacreditado pelo povo. Shouwa, o seu 124º imperador, decretou duas leis soberanas: 1ª – Nenhum homem ou mulher poderia ter o salário superior ao do professor; 2ª – O professor é a única pessoa perante quem o imperador se levanta e reverencia. Em menos de 4 décadas o Japão já era a primeira potencia tecnológica do mundo moderno e um das nações mais desenvolvidas e equilibradas do mundo.
A atitude de Shouwa (que podemos considerá-lo educador) foi mais que a de um estadista, foi a maneira de um profeta. Ser educador exige uma fé de profeta. Isso mesmo! Por que educar é a tarefa mais à longo prazo que existe. Se alguém deseja ver frutos imediatos da ação educacional, ficará frustrado. Educar exige tempo e fé de profeta.
Porque muitos políticos não se aplicam em favorecer a política educacional de seu município, estado ou nação? A resposta é simples: porque possivelmente quando os frutos nascerem seu idealizador já estará aposentado e fora do poder. Os políticos querem investir em obras visíveis, aplicar as verbas públicas onde se possa depois declamar: “aqui estão os resultados dos investimentos públicos”. Todos sabem que educação é a proposta segura da mudança de uma nação, também sabem que isso durará um tempo para aparecer. Ninguém quer esperar. Nem o político, nem o povo.
Entre as formas de reivindicações das categorias profissionais nasceu a greve. Expressão constitucional e legal. Mas uma observação peculiar merece ser feita: quando a polícia militar dos estados na nossa federação decreta greve, em menos de uma semana são ouvidas as sua reivindicações. Evidentemente que sim, ninguém sai às ruas em uma cidade sem os mecanismos de segurança pública. Semelhantemente, as greves dos rodoviários retardam milhões de dólares e tornam as grandes cidades um caos. As negociações são rápidas. Mas as greves dos professores são mudas a todos os governos. Os docentes param por meses e ninguém percebe que estão em paralisação reivindicatória. Por quê? Por que a falta deles só se percebe à longo prazo. De imediato, um professor não faz falta.
Enquanto não se tem as melhores políticas educacionais possíveis, o professor deve acreditar com fé imortal na sua prática docente. Seguramente, muitos professores não serão lembrados, nem por isso podem ser negligentes ou preguiçosos. Ainda que pareça a maior utopia da esfera educacional, eis uma afirmação contundente e eterna: Ensina exige fé.
Ensinar exige acreditar que mudança é possível. Mesmo que demore, alias, demorará. Paulo Freire ensina-nos mais um dos saberes necessários para a educação:
Há uma relação entre a alegria necessária à atividade educativa e a esperança. A esperança de que professor e aluno juntos podemos aprender, ensinar, inquietar-nos, produzir e juntos igualmente resistir aos obstáculos à nossa alegria (Freire 1966, p. 80)
A expectativa de que é possível mudar está diretamente ligada a pratica educacional. É possível que profissionais de muitas categorias trabalhem sem crer e sem ter alegria naquilo que fazem. Isso não é possível ao educador. Se o professor perder a fé, não restam mais profecias sociais alcançáveis. Se o profeta profetiza sem fé, não há cumprimento.
Quem dera experimentássemos um governante profeta ao estilo de Shouwa! Um desses que não estivesse preocupado com as respostas imediatas. Um líder que preferisse ser lembrado daqui a vinte anos. Que percebesse o valor e a demora do processo educacional da nossa nação. Na verdade, precisamos de governantes que estejam dispostos a serem esquecidos, assim como os profetas professores, que fiquem vivos na construção do saber de seus alunos, mesmo que nunca mais sejam lembrados.
* Baktalaia de Lis Andrade Leal é especialista em Lingüística e professor da Universidade do Estado da Bahia – UNEB.
enviado por Zonal 3
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