É tempo de greve e esses dias me fiz várias perguntas. Fico pensado para que serve uma greve? Será que ela resolve alguma coisa? Será que não estou perdendo tempo? Será que essa luta vale a pena? Será que vão prender meu salário? Será que irei perder o meu emprego? E, ai, algumas coisas me veio a cabeça ao mesmo tempo: tenho um filho para criar, um aluguel para pagar, tenho que comer, que vestir. Pensei: estou lascado, sou professor temporário!
Esse foi o momento em que a perna tremeu! Que a voz disposta para lutar, silenciou! Posso perde o meu emprego! Essa parece ser a bomba relógio na cabeça de cada professor. Foi neste instante que meus olhos se encheram de lágrimas e tive que tomar uma decisão, talvez a mais dolorosa, mas não poderia ser diferente.
Pensei em meus alunos, nas cartas cheias de carinho e verdade que já recebi, lembrei das brincadeiras que fizemos juntos, dos materiais que produzimos: textos, desenhos, pinturas, performances, vídeos. Não me esqueço das carinhas de choro, sorriso e novidade dos alunos ao subir nas cadeiras, ao construir um espetáculo, ao andar na faixa amarela do asfalto, as suas primeiras intervenções urbanas, a primeira vez que eles foram a uma exposição ou ao concerto musical. A montagem da nossa sala de aula ar livre, todos construíram uma idéia de liberdade.
Pensei mais um pouco, lembrei quando eu era igual a eles, quando participava do movimento estudantil e queria entender qual a educação que deveria defender para os filhos dos trabalhadores deste pais. Esse foi também um tempo de amadurecimento, de grandes sonhos e espírito de rebeldia.
Cheguei a seguinte conclusão, tenho que continuar ensinando aos filhos da minha classe, da classe do proletariado, dos oprimidos e explorados da qual faço parte. Tenho que ensinar e aprender com eles, que os conteúdos estudados em sala de aula devem ter uma função para a pratica social. Por isso quando falo na sala de aula sobre cidadania, movimentos artísticos, liberdade de expressão, democratização dos meios de comunicação, rupturas estéticas e artísticas, dentre várias outras coisas que estão relacionadas arte e a vida das pessoas, só me vejo na obrigação de ser coerente com o que ando ensinados aos alunos.
Por isso, tomo uma decisão difícil, posso perder tudo, menos a minha consciência e se for para manchar a minha trajetória, mancharei com o sangue da minha luta!
De acordo com o Governo sou professor temporário: prefiro ser um educador permanente e um efetivo da luta
Por isso decidir: entramos juntos, estamos juntos e sairemos juntos!
Estou em Greve junto com os professores (sem nomenclaturas) do Estado Ceará.
Alexandre Lucas
Artista/educador – (Professor temporário) --
"Todo artista, todo aquele que se considera
artista, tem o direito de criar livremente
de acordo com seu ideal, sem depender de
nada".
Lênin
muito bem, Professor Alexandre,meu filho estuda na rede pública e são professores na sua estampa que não me deixam desacreditar na educação.
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