quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Greve sem prejuízo não é greve

"O direito de greve é inegociável. Crucial em qualquer democracia. Instrumento imprescindível nas relações de trabalho"
A manchete do O POVO de domingo sobre os prejuízos causados pelas greves causou previsíveis reações. As categorias resistem a discutir o assunto, como quem tapa o sol com peneira. É necessária maturidade para reconhecer que toda mobilização do gênero causa problemas, sim. E precisa causar. Não sendo assim, simplesmente não faz sentido. Uma categoria de trabalhadores que para de trabalhar e não faz falta a ninguém é irrelevante, descartável. Paralisação que não causa transtorno é desprovida de força política. Quanto maior o prejuízo, maior o poder de negociação de um segmento em greve. O que não quer dizer, obviamente, que todo o problema é culpa dos trabalhadores. Há responsabilidades compartilhadas: dos empregadores, cujas decisões podem levar os funcionários a parar; e também dos grevistas. Não dá para ninguém abrir mão da sua parcela. Nenhum dos lados pode empurrá-la integralmente para o outro. O debate sobre os transtornos causados pelas greves é tabu, mas precisa ser encarado. Pelos sindicatos, inclusive, embora sempre prefiram silenciar esse assunto. Tais cenários precisam ser considerados e pesados pelos grevistas antes de parar. E pelos patrões, também. Afinal, a eles é tentador e cômodo jogar a culpa toda em quem interrompeu o trabalho. Não é assim. E, até por isso, não é admissível a postura de intransigência ao se negociar. O jogo duro dos empregadores repercute, também, para quem precisa dos serviços.
Há vários lados numa greve. Cada setor tende, naturalmente, a olhar só para o seu. Os trabalhadores, para a defasagem salarial e as condições precárias. Os empregadores, para os balancetes contábeis. Visões limitadas, ambas. E que deixam de fora os principais interessados, abordados na matéria da repórter Lucinthya Gomes. Todos esses ingredientes precisam ser considerados numa greve. O todo é mais complexo que o interesse de qualquer dos lados, isoladamente.
E, claro, o direito de greve é inegociável. Crucial em qualquer democracia. Instrumento imprescindível nas relações de trabalho. Todavia, seu uso é de ferramenta política. E, como tal, sujeito ao debate e à crítica.
Érico Firmo
ericofirmo@opovo.com.br
Fonte: (O POVO 19-10-2011)
retirado de http://www.apeoc.org.br/

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